16 maio 2009

INDIE ROCK CAFÉ


Condomínio privado, rockalhadas públicas

Chama-se Indie Rock Café e é o sítio onde todos os sons pesados se concentram. João Macdonald vestiu uma t-shirt preta e foi até lá.



O Bairro Alto lá se vai transformando devagar em zona de habitação de luxo, mas nem o famoso condomínio privado do Convento dos Inglesinhos consegue espantar a caça e os caçadores. Até aconteceu que quando as obras do polémico empreendimento se aproximavam do fim, começava Carlos Moreira a tratar da decoração de um velho café de esquina, convertendo-o num bar para – usando as imortais palavras de Júlio Isidro -a malta da pesada. O IndieRockCafé, ei-lo hoje em pleno vigor, é um bom vizinho do condomínio privado.
E são todos amigos.
O lugar funciona como uma rádio-pirata que só emite dentro de quatro paredes. As colunas de som estão dominadas pelo rock das últimas três decadas (Carlos declarou o espaço, para os estrangeiros perceberem, como um "Iegendary alternative sound, gallery and snack bar") e, quando não são os consagrados reverberando as cores vermelhas e pretas (mais anarquista a decoração não poderia ser) que embelezam o lndie, é porque se está a ouvir a maquete de alguma banda nova. O bar alcançou o estatuto de posto de escuta público das novas produções rock de Lisboa e arredores. Não poucas vezes acontecem mini-concertos, dos mesmos neófitos musicais, e exposições. Até 14 de Maio está lá, por exemplo, "Fuga", uma vídeo instalação de João Cáceres Costa que diz no subtítulo "não aconselhável a pessoas sensíveis" (não contamos mais, é melhor confirmar no local).

A grande aranha e respectiva teia que ocupa o tecto vigia sinistramente a agitação. Em torno das mesas, cujos tampos trazem­-nos visões fanzinescas da história da música - uns Clash e uns Madness ali, uns Rádio Macau e uma Patti Smith aqui, uns Ramones e uns Sex Pistols acolá-, a mais novel geração de tribo rock consome cervejas, exibe moicanos e t-shirts dos Alien Sex Fiend e dos Motorhead (e, não podia deixar de ser, dos Joy Division). Carlos observa e dá assistência ao povo com bonomia e dedicação. Ele sabe que está no caminho certo.
O caminho arrancou quando ele tinha 18 anos e organizava festas alternativas na Linha de Cascais. Dar música à malta estava -lhe já muito na natureza, tal como as artes visuais. Saído da Escola António Arroio para o curso de restauro das oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo, o homem activou os seus talentos plásticos na altura em que os concertos e os bares multiplicavam-se em Lisboa. Vejam lá: serigrafista, executante de ti-shirts para as grandes bandas estrangeiras que vinham a Portugal e vitrinista, da Warner, Valentim de Carvalho e BMG, entre outras, trabalhou com os Mler Ife Dada e os More República Masónica. Fez de tudo um pouco em sítios que já não existem mas que fizeram história no Bairro Alto, como o La Folie ou o Rookie. E agora aqui está ele, por fim com o seu próprio bar e dedicado agente cultural.
Agente cultural mesmo: o rock agita -se no Indie, mas Carlos está a tratar de lançar este ano ainda uma extensão, também junto aos Inglesinhos. Vai reabrir o outrora intitulado BA, um magnífico e amplo espaço ao lado do convento. Haverá cinema, actividades para criança, música, stand-up, exposições, restauração. O rock'n'roll dá ideias para tudo.


lndie Rock Café. Travessa dos Inglesinhos, 49. Aberto todos os dias do ano das 22.00 às 02.00.

13 -19 Maio 2009 Time Out Lisboa