Dia Europeu dos Vizinhos
“Já não existem laços”
É hoje festejado, um pouco por toda a Europa, do Dia Europeu dos Vizinhos, com o objectivo de cultivar o convívio e desenvolver laços de amizade, rompendo com o isolamento cada vez mais frequente nas cidades.
Maria do Carmo “foi nascida e criada na freguesia do Castelo”, em Lisboa. Apesar de garantir que tem uma boa relação com os vizinhos, lamenta a falta de comunicação que os tempos modernos trouxeram. “Há muita gente aqui que já não conhecemos. As pessoas hoje em dia comunicam menos. Cada um tem o conforto do seu lar e, por isso, já não convive tanto. Antigamente os vizinhos eram mais unidos. Agora o único tempinho que estamos juntos é à hora do almoço quando vamos tomar café”, garante.
O seu vizinho, Alfredo Veloso, partilha a mesma opinião. “As pessoas não gozam nada. Saem do stress do trabalho e, em vez de irem conviver um pouco , para se distraírem, vão para casa. Antigamente havia mais união. Mas hoje até se acabaram os tascos. À medida que os mais velhos morrem, aparece gente que não conhecemos. Não há guerras nem discussões, mas também já não existem laços”. Alfredo Veloso recorda como, há cerca de um ano, foi tão importante a ajuda de uma vizinha. “Fez um ano em Janeiro que tive uma aflição e quem me valeu foi a minha vizinha. Estava a tomar banho na casa de banho e de repente ouço um grande estrondo na sala. A minha mulher tinha desmaiado. Sou um bocado nervoso e fraco nessas situações. Gritei pela minha vizinha de baixo e lá se chamou o 112”.
Já no Bairro Alto ainda existe uma réstia do espírito de familiaridade tão característico dos bairros mais pequenos. A entreajuda ainda impera, assim como o facto de se ‘facilitar’ os vizinhos e os mais conhecidos aquando o pagamento das despesas. Fernando Santos, de 58 anos, é dono de uma mercearia no Bairro Alto hà 29 anos. “Conheço quase todos os meus vizinhos e, de uma maneira geral, dou-me bem com todos. Tenho alguns vizinhos com aos quais sei que posso contar. Ajudam a descarregar o carro com as mercearias. Como diz o ditado, precisamos uns dos outros”, disse. Fernando Santos é viúvo e relembra o apoio incondicional prestado pelos vizinhos na altura em que perdeu a esposa. “Quando faleceu a minha mulher tive um grande ajuda dos meus vizinhos. Em termos de apoio, foram muito importantes”.
Mas nem todos os vizinhos cultivam um bom relacionamento, como é o caso de Francisca Gomes, reformada de 66 anos, que mora há nove anos no primeiro andar da Torre 1 do Bairro do Alto da Eira, na freguesia da Penha de França. Devido a desavenças com o vizinho do andar de cima, há três anos que luta para mudar para outro apartamento no mesmo prédio. “O meu vizinho faz barulho durante toda a noite, grita, arreda coisas. Percebo que ele tem que se movimentar e fazer algum barulho mas também há um horário para isso. Estou a viver um inferno, em desespero porque não durmo”, desabafou. A sexagenária vive ainda sob o medo das constantes ameaças por parte do vizinho, temendo mesmo que estas se tornem realidade. “Ele ameaça matar-me. Tenho medo que ele não descanse enquanto não o fizer. Mas eu não incomodo o senhor. Já dormi muitas vezes na paragem do autocarro para não incomodar os vizinhos todos os dias. Até já pedi acolhimento na esquadra da polícia”, garantiu, visivelmente abalada.
A situação tornou-se tão insuportável que Francisca Gomes pediu ajuda à Câmara Municipal de Lisboa. A solução foi atribuir-lhe um apartamento vago no 10º andar. Contudo, e apesar de ter provido a casa com água e luz, deparou-se com uma realidade bem diferente do que esperava. A casa tem infiltrações, as janelas estão partidas e não abrem e as paredes estão cheias de brechas que ameaçam fazer ruir a habitação. “É a maior das misérias da vida. A minha casa era boa e agora aceitei esta. Com o desespero que andava nem me apercebi das condições em que ela se encontrava. Só no outro dia é que me apercebi. Já não sei o que fazer porque não me dão outra. E também tenho medo de me morar aqui”, lamentou.
Joana Nogueira
“Já não existem laços”
É hoje festejado, um pouco por toda a Europa, do Dia Europeu dos Vizinhos, com o objectivo de cultivar o convívio e desenvolver laços de amizade, rompendo com o isolamento cada vez mais frequente nas cidades.
Maria do Carmo “foi nascida e criada na freguesia do Castelo”, em Lisboa. Apesar de garantir que tem uma boa relação com os vizinhos, lamenta a falta de comunicação que os tempos modernos trouxeram. “Há muita gente aqui que já não conhecemos. As pessoas hoje em dia comunicam menos. Cada um tem o conforto do seu lar e, por isso, já não convive tanto. Antigamente os vizinhos eram mais unidos. Agora o único tempinho que estamos juntos é à hora do almoço quando vamos tomar café”, garante.
O seu vizinho, Alfredo Veloso, partilha a mesma opinião. “As pessoas não gozam nada. Saem do stress do trabalho e, em vez de irem conviver um pouco , para se distraírem, vão para casa. Antigamente havia mais união. Mas hoje até se acabaram os tascos. À medida que os mais velhos morrem, aparece gente que não conhecemos. Não há guerras nem discussões, mas também já não existem laços”. Alfredo Veloso recorda como, há cerca de um ano, foi tão importante a ajuda de uma vizinha. “Fez um ano em Janeiro que tive uma aflição e quem me valeu foi a minha vizinha. Estava a tomar banho na casa de banho e de repente ouço um grande estrondo na sala. A minha mulher tinha desmaiado. Sou um bocado nervoso e fraco nessas situações. Gritei pela minha vizinha de baixo e lá se chamou o 112”.
Já no Bairro Alto ainda existe uma réstia do espírito de familiaridade tão característico dos bairros mais pequenos. A entreajuda ainda impera, assim como o facto de se ‘facilitar’ os vizinhos e os mais conhecidos aquando o pagamento das despesas. Fernando Santos, de 58 anos, é dono de uma mercearia no Bairro Alto hà 29 anos. “Conheço quase todos os meus vizinhos e, de uma maneira geral, dou-me bem com todos. Tenho alguns vizinhos com aos quais sei que posso contar. Ajudam a descarregar o carro com as mercearias. Como diz o ditado, precisamos uns dos outros”, disse. Fernando Santos é viúvo e relembra o apoio incondicional prestado pelos vizinhos na altura em que perdeu a esposa. “Quando faleceu a minha mulher tive um grande ajuda dos meus vizinhos. Em termos de apoio, foram muito importantes”.
Mas nem todos os vizinhos cultivam um bom relacionamento, como é o caso de Francisca Gomes, reformada de 66 anos, que mora há nove anos no primeiro andar da Torre 1 do Bairro do Alto da Eira, na freguesia da Penha de França. Devido a desavenças com o vizinho do andar de cima, há três anos que luta para mudar para outro apartamento no mesmo prédio. “O meu vizinho faz barulho durante toda a noite, grita, arreda coisas. Percebo que ele tem que se movimentar e fazer algum barulho mas também há um horário para isso. Estou a viver um inferno, em desespero porque não durmo”, desabafou. A sexagenária vive ainda sob o medo das constantes ameaças por parte do vizinho, temendo mesmo que estas se tornem realidade. “Ele ameaça matar-me. Tenho medo que ele não descanse enquanto não o fizer. Mas eu não incomodo o senhor. Já dormi muitas vezes na paragem do autocarro para não incomodar os vizinhos todos os dias. Até já pedi acolhimento na esquadra da polícia”, garantiu, visivelmente abalada.
A situação tornou-se tão insuportável que Francisca Gomes pediu ajuda à Câmara Municipal de Lisboa. A solução foi atribuir-lhe um apartamento vago no 10º andar. Contudo, e apesar de ter provido a casa com água e luz, deparou-se com uma realidade bem diferente do que esperava. A casa tem infiltrações, as janelas estão partidas e não abrem e as paredes estão cheias de brechas que ameaçam fazer ruir a habitação. “É a maior das misérias da vida. A minha casa era boa e agora aceitei esta. Com o desespero que andava nem me apercebi das condições em que ela se encontrava. Só no outro dia é que me apercebi. Já não sei o que fazer porque não me dão outra. E também tenho medo de me morar aqui”, lamentou.
Joana Nogueira