Modistas de Lisboa querem voltar a pôr a roupa por medida na moda
Lusa
Tecidos, agulhas e linhas não
faltam no ateliê das Modistas de Lisboa, duas amigas que querem voltar a pôr na
moda o hábito de se mandar fazer roupa por medida. É numa sala comprida e
estreita, em pleno Bairro Alto, que Susana Fernandes, 38 anos, e Sara Gaspar,
36 anos, transformam metros de tecido em vestidos, saias, calças, blusas ou
casacos.
Numa época em que prosperam
workshops de “corte e costura” e lojas de arranjos, as Modistas de Lisboa
querem ir mais longe e mostrar que a costura é uma arte “que não se aprende em
seis meses”.
Com formação superior em
psicologia, Susana Fernandes confessa que aprendeu os primeiros passos na
costura com 12 anos e o “bichinho” nunca a largou, até que decidiu torná-lo no
seu modo de vida. As duas conheceram-se na Escola Profissional MODATEX e,
quando terminaram o curso, decidiram trabalhar por conta própria.
“Tínhamos vontade de criar coisas
próprias que estivessem ligadas ao processo criativo e a costura permite isso”,
contou Sara Gaspar à Lusa.
As modistas instalaram-se no
Bairro Alto em agosto, mas só trabalhavam para pessoas conhecidas e amigos de
amigos. Em janeiro abriram as portas ao público. Contudo, admitem que “só
começaram a existir quando criaram uma página no Facebook”.
Sara Gaspar é formada em
Comunicação Empresarial e entrou no mundo da costura quando decidiu arranjar um
hobbie que lhe desse prazer e permitisse ganhar algum dinheiro extra.
Afirmando que a “profissão de
modista é vista como uma profissão menor e mal remunerada”, Sara Gaspar disse
que “gostava de contribuir para uma mudança” nessa mentalidade.
“Queremos conquistar um público
mais jovem. A clientela das modistas é, por norma, mais antiga ou mais
conservadora. Queremos colocar a profissão na moda no sentido de conquistar
novas gerações. Fazê-las saber dos benefícios da roupa por medida”, frisou.
Para as modistas, a confeção por
medida é um investimento que não se encontra numa loja de pronto a vestir.
“Os benefícios não são
comparáveis. São peças únicas idealizadas pelas pessoas e têm uma durabilidade
e longevidade maiores”, disse Sara Gaspar.
“Com a crise, temos de pensar bem
onde investimos o nosso dinheiro e faz mais sentido a confeção por medida, pois
a peça vai durar mais”, acrescentou.
Susana Fernandes admite que
mandar fazer roupa “é sempre um processo mais caro, mas é um caro relativo”,
porque “as pessoas podem trazer o tecido e fica feito à medida, como gosta e
com o modelo que idealizou”.
“É essa a mais-valia e vai ter um
valor sentimental diferente”, frisou a modista, acrescentando: “a nossa aposta
é a confeção por medida e essa medida tem recetividade”.
Comparando a sua arte com
gastronomia, Susana Fernandes diz que as “peças de modista seriam o prato
gourmet e as da loja um prato de fast food”.
Além da confeção por medida, as
Modistas de Lisboa fazem também arranjos e alteram peças de roupa.
No final do dia, as duas amigas
fecham a porta com a certeza de terem clientes satisfeitas porque querem
“primar, não pela quantidade, mas por entregar uma peça bem feita, bonita e que
se distinga da maior parte que se possa encontrar”.
No entanto, e apesar de passarem
o dia a construir peças de roupa, as duas admitem que compram a sua já feita.
“Não temos tempo para fazer a
nossa”, explicou Sara Gaspar.
“Já não compro tanto. Se gosto de
uma coisa, não vou comprar, vou fazer. Mas demora muito…” acrescentou Susana
Fernandes.