03 abril 2013

NOVAS MODISTAS



 

Modistas de Lisboa querem voltar a pôr a roupa por medida na moda

Lusa

Tecidos, agulhas e linhas não faltam no ateliê das Modistas de Lisboa, duas amigas que querem voltar a pôr na moda o hábito de se mandar fazer roupa por medida. É numa sala comprida e estreita, em pleno Bairro Alto, que Susana Fernandes, 38 anos, e Sara Gaspar, 36 anos, transformam metros de tecido em vestidos, saias, calças, blusas ou casacos.
Numa época em que prosperam workshops de “corte e costura” e lojas de arranjos, as Modistas de Lisboa querem ir mais longe e mostrar que a costura é uma arte “que não se aprende em seis meses”.
Com formação superior em psicologia, Susana Fernandes confessa que aprendeu os primeiros passos na costura com 12 anos e o “bichinho” nunca a largou, até que decidiu torná-lo no seu modo de vida. As duas conheceram-se na Escola Profissional MODATEX e, quando terminaram o curso, decidiram trabalhar por conta própria.
“Tínhamos vontade de criar coisas próprias que estivessem ligadas ao processo criativo e a costura permite isso”, contou Sara Gaspar à Lusa.
As modistas instalaram-se no Bairro Alto em agosto, mas só trabalhavam para pessoas conhecidas e amigos de amigos. Em janeiro abriram as portas ao público. Contudo, admitem que “só começaram a existir quando criaram uma página no Facebook”.
Sara Gaspar é formada em Comunicação Empresarial e entrou no mundo da costura quando decidiu arranjar um hobbie que lhe desse prazer e permitisse ganhar algum dinheiro extra.
Afirmando que a “profissão de modista é vista como uma profissão menor e mal remunerada”, Sara Gaspar disse que “gostava de contribuir para uma mudança” nessa mentalidade.
“Queremos conquistar um público mais jovem. A clientela das modistas é, por norma, mais antiga ou mais conservadora. Queremos colocar a profissão na moda no sentido de conquistar novas gerações. Fazê-las saber dos benefícios da roupa por medida”, frisou.
Para as modistas, a confeção por medida é um investimento que não se encontra numa loja de pronto a vestir.
“Os benefícios não são comparáveis. São peças únicas idealizadas pelas pessoas e têm uma durabilidade e longevidade maiores”, disse Sara Gaspar.
“Com a crise, temos de pensar bem onde investimos o nosso dinheiro e faz mais sentido a confeção por medida, pois a peça vai durar mais”, acrescentou.
Susana Fernandes admite que mandar fazer roupa “é sempre um processo mais caro, mas é um caro relativo”, porque “as pessoas podem trazer o tecido e fica feito à medida, como gosta e com o modelo que idealizou”.
“É essa a mais-valia e vai ter um valor sentimental diferente”, frisou a modista, acrescentando: “a nossa aposta é a confeção por medida e essa medida tem recetividade”.
Comparando a sua arte com gastronomia, Susana Fernandes diz que as “peças de modista seriam o prato gourmet e as da loja um prato de fast food”.
Além da confeção por medida, as Modistas de Lisboa fazem também arranjos e alteram peças de roupa.
No final do dia, as duas amigas fecham a porta com a certeza de terem clientes satisfeitas porque querem “primar, não pela quantidade, mas por entregar uma peça bem feita, bonita e que se distinga da maior parte que se possa encontrar”.
No entanto, e apesar de passarem o dia a construir peças de roupa, as duas admitem que compram a sua já feita.
“Não temos tempo para fazer a nossa”, explicou Sara Gaspar.
“Já não compro tanto. Se gosto de uma coisa, não vou comprar, vou fazer. Mas demora muito…” acrescentou Susana Fernandes.