"Engonharam, engonharam, mas agora está bonito", comentava Eugénia Carvalho enquanto percorria o novo miradouro e jardim de São Pedro de Alcântara, ao Bairro Alto, que ontem reabriu de "cara lavada" após mais de dois anos de atribuladas obras de requalificação. A idosa, que vive paredes-meias com aquela importante varanda sobre a capital, foi uma entre largas dezenas de curiosos que ontem acorreram à cerimónia de reabertura daquele espaço público, com direito a banda de música (do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa) e a crianças com máscaras e vestes de Carnaval, provenientes das escolas primárias da freguesia. "Vou fazer como os caracóis. Quando o dia estiver bonito, venho para cá passear", acrescentou a moradora.
Novo mobiliário urbano, calçada portuguesa, áreas de repouso, iluminação pública, valorização do lago e zonas verdes na parte inferior do jardim são os aspectos mais notórios da reconversão, orçada em mais de um milhão de euros. Até 10 de Março deverão surgir duas cafetarias (uma na zona inferior), consideradas pelo autarca António Costa "fundamentais para dar vida e segurança ao jardim".
Ana Sara Brito, actual vereadora da Habitação, e ex-presidente da Junta de Freguesia da Encarnação, não escondeu a sua satisfação pela reabertura do jardim, recordando a luta que travou em defesa de uma intervenção. "Foi uma batalha da junta e da assembleia de freguesia que durou nove anos", frisou. Muita areia entrou na engrenagem da renovação. Primeiro foi necessário afinar o projecto e ultrapassar os diferendos com o extinto IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico).
Beijos às claras, sem pudor.
"Queriam uma iluminação mais romântica para manter aquele aspecto do século XIX mas o romantismo passa pela segurança", referiu Ana Sara Brito, sublinhando que "hoje os jovens já não se inibem" de dar beijos com mais claridade.
O miradouro e jardim foram vedados para obras em Novembro de 2005. À empreitada inicial, orçada em 976 mil euros e adjudicada à empresa XIX, Construção, Projectos e Gestão, juntaram-se trabalhos a mais na ordem dos 90 mil euros. Descobriu-se que o muro que separa as duas plataformas do jardim apresentava sinais alarmantes de degradação. Mais tarde e durante cerca de um ano os trabalhos caíram num impasse. Os problemas financeiros da Câmara e a falta de pagamento ao empreiteiro levou a empresa a ordenar a retirada de trabalhadores e máquinas.A ausência de "verde" no patamar superior do jardim, notada por muitos dos populares acontece por obrigação. "São as normas e instruções do IPPAR. O projecto tinha que buscar o design original", explicou o presidente António Costa.
in http://jn.sapo.pt/2008/02/02/pais/miradouro_devolvido_a_lisboetas_e_tu.html
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