03 agosto 2008

DIZ O "JORNAL DE NOTÍCIAS"

Confronto marca reforço policial no Bairro Alto

Comerciantes pagam dispositivo extra da PSP mas não escondem receio de represálias.

Nuno Miguel Ropio

A primeira madrugada de policiamento extra no Bairro Alto, em Lisboa, acabou em confrontos numa das ruas. Mas os comerciantes, que suportam os gastos com os agentes da PSP, dizem que o reforço é para continuar.

Um grupo de jovens, que provocava desacatos na Rua do Diário de Notícias, levou nove agentes a intervir e a identificar os autores de alguns actos violentos contra transeuntes que, ontem de madrugada, se encontravam no Bairro Alto. Este foi o primeiro incidente a envolver o reforço de segurança nocturna, que arrancou ontem, pago pelos comerciantes instalados naquela área.

O Comando Metropolitano da PSP garante que só a partir de amanhã poderá ser feito um balanço da acção do dispositivo durante este fim-de-semana. Também a Associação de Comerciantes do Bairro Alto, que patrocinou a medida, contactada pelo JN, apenas se mostrou disponível para avaliar o reforço de policiamento nos próximos dias.

"Notou-se que os traficantes já não rondam as ruas. E os agentes não passaram despercebidos aos nossos clientes", admitiu, ontem, um dos cerca de 70 proprietários de estabelecimentos comerciais, entre bares e restaurantes, que financiam a medida. "Não quero problemas, por isso não ponha fotos minhas nem o meu nome", pediu o empresário, enquanto um dos vendedores de estupefacientes se senta no passeio, em frente a ele, de uma forma intimidatória.

O aumento dos episódios de violência no Bairro Alto, que atinge tanto a "movida" como os moradores, levou em Junho três proprietários de bares a contactar os restantes para se avançar no reforço policial. Segundo o empresário Leonídio Marques, a clientela dos restaurantes começou a mostrar desconforto perante a insistência dos traficantes de estupefacientes. "Assaltos sempre houve e violência também. Mas os clientes já começam a ser importunados a um ponto, que até são puxados para comprar essas coisas [droga]", explicou, não escondendo o receio de represálias. De quem? "É muito complicado explicar. Mas eles andam aí e a polícia sabe quem são", respondeu.

Perante as queixas a Câmara de Lisboa garantiu este ano um reforço de segurança, com base num protocolo existente entre a autarquia, o Ministério Público e a PSP. Mas a morte de duas pessoas e ferimentos em outras tantas, recentemente na zona, levou os proprietários a avançar com a medida - a que nem todos aderiram -, pagando cada um 120 euros mensais. Entre as 20 horas e a meia noite, o contigente policial conta com cinco agentes, elevando-se para nove até às quatro da manhã.

"Uns 120 ciganos, que nem são violentos, conseguiram afastar os africanos e agora lideram as ruas. De vez em quando há disputa entre eles", denunciou outro empresário. "Não sabia de nada e achei estranho tanto polícia, para cima e para baixo. Só percebi do que se tratava depois da confusão na Rua do Diário de Notícias. Mas acho anormal que o direito à segurança tenha de ser pago", admitiu, por outro lado, Paulo Alexandre, um morador.

Em Setembro, de acordo com a Câmara, avança uma limpeza dos prédios vandalizados com grafitos. Serão depois distribuídos kits a comerciantes e moradores, para garantirem a manutenção das fachadas após a acção de limpeza.

In Jornal de Notícias

Sem comentários:

Enviar um comentário