23 maio 2008

MAIS UM TIRO...

Suspeito de droga abatido na rua

"O ‘Bánu’ caiu aqui. Quando o vi nem me parecia ele. Estava mal, tinha os olhos revirados... Já tinha tido uma paragem cardíaca e foi reanimado por uma senhora." Horas após a morte do amigo, baleado na madrugada de ontem em pleno Bairro Alto, em Lisboa, Ruben ainda está incrédulo.

'Eu e a minha namorada pegámos-lhe na mão. Ele parecia querer dizer alguma coisa. Chegou o INEM e disse que ia fazer tudo por ele. Mas afinal ele morreu.'

‘Bánu’, alcunha pela qual era conhecido o jovem atingido no tórax às 02h30, foi transportado ao Hospital de São José, onde morreu pelas 6h00, durante uma intervenção cirúrgica.

A vítima tinha 21 anos. O amigo conhecia-o desde pequeno: 'Crescemos juntos na Amadora, no Casal de São Brás, onde ele morava com os pais.' Garante que o jovem não tinha problemas com ninguém. Mas as autoridades estão convencidas de que os dois tiros que se ouviu naquela noite – só um deles, de uma arma de calibre 6.35mm, matou ‘Bánu’ – foram motivados por assuntos relacionados com o tráfico de droga.

Tratou-se de um 'ajuste de contas', especificou ao CM fonte policial, acrescentando que o jovem era visita frequente do Bairro Alto, onde alegadamente se dedicava à venda de haxixe. Outra fonte adianta que a vítima conhecia o agressor, também referenciado por tráfico.

Ruben desmente que o amigo se dedicava ao tráfico. 'A mãe tem um café nos Anjos e ele ajudava-a', adianta, confirmando que ‘Bánu’ ia muitas vezes ao Bairro Alto. 'Até porque eu estou a morar cá e ele vinha ter comigo.' ‘Bánu’ e Ruben encontraram-se no Bairro e foram juntos até ao número 11 da Travessa da Cara. Combinaram voltar a encontrar-se ali, meia hora depois.

Às 02h30, quando Ruben regressou ao local, deparou-se com o amigo prostrado no chão: terá sido atingindo na rua do Diário de Notícias. Ferido, correu até ao local combinado, onde desfaleceu.

O agressor foi visto por várias testemunhas, que foram ouvidas pelas autoridades.


COMERCIANTES E MORADORES INSEGUROS

Unânimes nas acusações, moradores e comerciantes afirmam: 'São os que vêm de fora que provocam os desacatos.' De dia 'este bairro até é monótono', prosseguem, lamentando o barulho nocturno. É de noite que o bairro se enche de gente em busca de diversão. 'E com uma cerveja a mais já se sabe', alega Maria de Fátima, moradora do bairro há 47 anos, onde tem um minimercado. Esta comerciante diz que tem medo de sair de casa à noite. 'Só saio se a situação for muito grave', frisa ao CM. Mais inseguros sentem-se os empregados dos bares que, solicitando o anonimato, lamentam a falta de polícia. 'Há noites em que não se vê um.'


FRANCISCO TADEU, DIRECTOR ASS. DE DISCOTECAS: 'PODEMOS PAGAR À PSP'

CM – Que medidas podem ser tomadas para aumentar a segurança?

Francisco Tadeu – Ainda no dia 7 de Março o sr. ministro da Administração Interna promulgou um despacho que permite aos proprietários de discotecas e bares contratarem polícias para os estabelecimentos.

– Concordam em suportar esse custo? Já alguém recorreu a esses gratificados?

– Custa cerca de 50 euros por quatro horas. Podemos pagar e já houve quem tentasse mas os comandantes distritais dizem que não têm agentes disponíveis.

– Então ficaram na mesma?

– Sim. Mas já enviámos, no passado dia 7, um e-mail ao sr. ministro a dar-lhe conhecimento que os comandantes distritais não executam o seu despacho. n S.R.


CÂMARA ESTUDA INSEGURANÇA

Por proposta da Associação de Comerciantes do Bairro Alto, a Câmara Municipal de Lisboa está a estudar, desde finais de Fevereiro passado, um projecto para tentar resolver o problema da insegurança no Bairro Alto.

Os comerciantes locais propuseram o reforço do policiamento nas ruas, mais fiscalização aos horários e licenças dos espaços nocturnos e uma maior cooperação entre a PSP e a Polícia Municipal, aumentando a presença de agentes no bairro.

O comando Metropolitano da PSP de Lisboa escusou-se ontem a prestar declarações sobre a insegurança que os moradores dizem existir, uma vez que existe um projecto em estudo que reúne uma série de entidades, incluindo as polícias, a Câmara Municipal e os comerciantes.

A instalação de videovigilância no Bairro Alto é uma das hipóteses que está a ser avaliada.

Sofia Rêgo com H.M./A.L

In Correio da Manhã



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