10 novembro 2008

DESPEDIMENTOS


Já começaram os despedimentos no Bairro Alto
09 11 2008 21.30H


Há uma semana que o Bairro Alto passou a encerrar às 2h, por imposição da Câmara de Lisboa. A medida, apoiada pelos moradores, mas fortemente contestada pelos comerciantes, continua a gerar polémica e a dividir os visitantes.
Sexta-feira, um grupo decidiu protestar distribuindo apitos, na hora que dita o encerramento das portas. Sábado foi convocada uma manifestação e o Destak saiu à rua para fazer o balanço da primeira semana de vida com novas regras.


Inês Santinhos Gonçalves destak@destak.pt


Este tem sido um ano difícil para o emblemático espaço nocturno lisboeta. A Lei do Tabaco obrigou a gastos, que aumentaram com o pagamento de um reforço de segurança, por parte dos comerciantes. Agora, muitos dos bares fecham duas horas mais cedo.
Sexta-feira um grupo de frequentadores indignados decidiu protestar, distribuindo apitos às 2h. Sábado foi convocada uma manifestação. O Destak foi para a rua saber qual o balanço da primeira semana para comerciantes e clientes.
«Perdemos à volta de 50% dos lucros», contou Alfredo Macedo, empregado do bar Palpita-me, explicando que como a clientela só chega pela 1h15 resta muito pouco tempo para o negócio.
«Abrimos às 19h, e como vê, ainda não está cá ninguém», diz apontando para o bar vazio no início da noite. Os despedimentos são «inevitáveis»: «Aqui no bar já vão três pessoas embora».
O mesmo dizem Carlos, Ana e Bruno, de bares da Rua da Barroca que preferem não identificar por medo de represálias. «Isto é um lobby da Junta de Freguesia; a maioria dos moradores dá-se bem com os bares e
até querem que estejam aqui por motivos de segurança», explicam. O corte nos lucros, dizem, vai tirar emprego a muitas pessoas, «ao ponto de pôr em causa a existência de grande parte dos bares».
Para estes comerciantes, o desemprego irá afectar não só os bares, mas os restaurantes e as mercearias, num efeito de cadeia: «Aqui toda a gente vive dos negócios uns dos outros».
Pedem para regressar ao tema da segurança: «A partir de agora isto começa a ficar deserto mais cedo, mais cedo começa a haver problemas. Todos sabem que no Bairro Alto há tráfico de muita coisa. Se os bares
fecharem mais cedo, o tráfico continua a existir e pode criar-se um guetozinho. Os traficantes passam a vir para aqui como vinham para o casal ventoso».
Os três colegas fazem questão de salientar que não estão só preocupados em fazer dinheiro. Admitem que seja necessário um entendimento. Consideram que a solução poderia passar pela proibição de venda de bebidas na rua.
«Se a câmara proibisse beber na rua, as pessoas teriam que entrar para os bares e aí já poderia haver uma parceria entre os bares e a câmara para tentar resolver o problema». Mas assim, «é apenas pura repressão».
Opiniões dividem-se
Pela 1h da manhã, um grupo de amigos na casa dos vinte conversa animadamente de copo na mão. «Acho bem, é uma questão de respeito pelas pessoas que vivem aqui. Têm que adaptar a cidade, mudar as zonas de bares para os arredores», opina Marina. «Não! Não há nada como o
Bairro», contrapõe Tristão.
«Acho que agora está mais limpinho e tem menos gente», diz Fátima, que não põe a hipótese de deixar de ir ao bairro onde é presença fiel «quase todas as semanas».
Copo vai, copo vem, surgem algumas propostas politicamente incorrectas: «Deviam criar alojamento noutro sítio para as pessoas que moram aqui», diz Ruben entre gargalhadas. A sugestão era uma brincadeira, mas outra surge um pouco mais séria: «E porque não vidros duplos nas janelas e pronto?»

http://www.destak.pt/artigos.php?art=15803