O histórico bar Frágil, no Bairro Alto,
em Lisboa, completa hoje 30 anos e vai comemorar a data com uma festa na próxima
quinta-feira, 21 de Junho.
Inaugurado a 15 de Junho de 1982, o
actual Frágil herdou dessa década a aura de uma certa ‘movida’ de artistas e
pensadores na Lisboa recém-saída da dormência de décadas de ditadura, mas não
parou no tempo: renovou-se, adaptou-se e mantém o seu lugar na noite do Bairro
Alto.
«O Frágil era uma espécie de refúgio, o
sítio mais importante no Bairro Alto, na altura em que eu comecei a sair, há 30
anos. Foi o sítio onde eu conheci, por exemplo, o Miguel Esteves Cardoso, o
Hermínio Monteiro [editor da Assírio & Alvim, já falecido], o Pedro Ayres
Magalhães», disse à Lusa o compositor Rodrigo Leão, um dos três actuais sócios
(juntamente com a mulher, Ana Carolina, e a psiquiatra Ana Matos Pires).
«Aliás, foi aqui no Frágil que falámos
as primeiras vezes em fazer o projecto Madredeus, um projecto diferente
daqueles em que eu e o Pedro tocávamos na altura, a Sétima Legião e os Heróis
do Mar», sublinhou.
Instalado no n.º 126 da rua da Atalaia
no espaço que foi antes uma padaria, com um grande forno e um café contíguo, o
Frágil mantém ainda traços da anterior vida, como paredes cobertas de azulejos
brancos, que convivem harmoniosamente com as colunas barrocas de talha dourada
e os grandes espelhos com que o antiquário Manuel Reis, primeiro proprietário,
decorou o bar.
Mas muita coisa mudou naquele espaço.
Quando Ana Carolina e os seus cinco sócios compraram o espaço, há 14 anos,
havia uma sala escorada e a céu aberto e, quando chovia, chovia também na
cabine de som, pelo que foi necessário fazer obras de fundo, colocar um telhado
novo, de várias águas, e também insonorizar o espaço, contou Rodrigo Leão.
Mais tarde, há quatro anos, o compositor
comprou a quota de um dos sócios e instalou o seu estúdio no andar de cima do
bar, a que se acede por umas escadas metálicas.
«Foi, ao longo destes 30 anos, um sítio
que eu frequentei com muita regularidade e agora sinto até um certo orgulho em
poder continuar ligado ao Frágil», observou o músico, que ali conheceu também
aquela que se tornaria sua mulher e letrista.
«As pessoas não ficaram órfãs do Frágil
dos anos 1980, o Frágil continua a existir!», frisou Ana Carolina.
Além das alterações no espaço, houve
outras, sinal dos tempos: mantendo-se as noites normais, com DJ a encherem a
pista de gente a dançar, começou também a haver espectáculos com atores a
recitarem poesia, acompanhados de músicos, lançamentos de livros, festas
temáticas, parcerias com outras entidades para outro tipo de eventos, como
passagens de modelos, e até transmissões em directo de programas de rádio, como
aconteceu na última noite eleitoral com o ‘Governo-Sombra’, da TSF.
«Penso que é isso um pouco o futuro do
Frágil. É quase como um clube de amigos que se propõe fazer coisas diferentes»,
observou o músico.
Consultando a página do Frágil na rede
social Facebook, é possível ficar a par da agenda do bar, que, neste momento,
abre de quinta-feira a sábado, das 23H30 às 04H00, e também noutros dias da
semana para eventos específicos.
No verão, referiu Rodrigo Leão, o bar
vai estar aberto mais dias.
Lusa/SOL