28 fevereiro 2012

TUDO PODE ACABAR EM JOALHARIA


por CARLOS DIOGO SANTOS

Ao contrário da joalharia tradicional, as jóias contemporâneas são mais acessíveis, sem jóias preciosas ou metais nobres  Ouro, prata e algumas pedras preciosas são as matérias-primas mais conhecidas quando nos referimos à joalharia tradicional. Mas para fazer uma jóia inovadora é preciso muito mais do que isso. É preciso imaginação e abertura de espírito para perceber que até de tripa de porco se pode fazer uma pulseira única. Inês Nunes é joalheira, tem um atelier no Bairro Alto, em Lisboa, e desde sempre se dedicou a esta arte 'alternativa' - a joalharia contemporânea. Estudou na Escola António Arroio e mais tarde no Centro de Arte e Comunicação Visual (AR.CO). Como complemento licenciou-se em Psicologia e abriu o seu atelier.  Todas as jóias que faz têm de representar algum momento da vida de alguém, tal como as que usa reflectem situações que viveu. Recusa fazer imitações e tudo o que produz é exclusivo.
"Este espaço é aberto para que eu possa receber os clientes e consiga que eles se sintam à vontade para ver tudo. Além disso, não podemos esquecer que quem me procura pretende um trabalho de parceria, em que o cliente tem de estar por dentro da construção final, tem de estar envolvido", explicou ao DN a proprietária do espaço. Visto da porta - nem sempre aberta ao público -, o pequeno atelier divide-se em duas áreas: à esquerda a oficina, onde são feitas as peças, e à direita as montras, onde estão expostas algumas delas.

Quem ali vive, na sua maioria idosos, já se habituou à ideia. E há até quem já se tenha socorrido da joalharia contemporânea por algumas vezes. Inês Nunes já recebeu vários vizinhos que procuram uma solução para objectos importantes da sua vida. "O Bairro Alto surgiu por acaso, apenas porque encontrei aqui um espaço adequado e hoje sinto que foi a melhor opção. As pessoas reconhecem o meu trabalho, pedem-me trabalhos e acarinham-me muito", contou a artista, acrescentando que o que mais a marcou foi uma pulseira pedida por uma vizinha. "A senhora tinha umas correntes de uns sapatos antigos, que fizeram parte da sua vida, e pediu-me para que as transformasse numa pulseira", confidencia, orgulhosa. As histórias de vida que se cruzam com o atelier de Inês Nunes nem sempre acabam em jóias, isto porque a artista não cede à imitação. Muitas pessoas contactam a responsável por este espaço  lisboeta na expectativa de ter uma jóia de ouro idêntica às que vêem nas revistas, outras pedem imitações quase perfeitas de peças à venda no mercado. A tudo isto Inês Nunes responde com um "não". "Não tenho o objectivo de imitar peças e mesmo as que faço são para ser únicas. Nunca tentei sequer fazer mais do que um espécime igual", esclarece.
Mas se há quem ainda só tenha comprado uma peça, ou mesmo quem ainda não se tenha deixado seduzir por esta arte, a verdade é que há também muitos clientes fidelizados. "Há maridos que me dão uma lista de datas em que querem que eu tenha pronta uma peça. São muitas vezes eles que trazem os materiais para que eu possa transformá-los em jóias e muitos até fazem questão de ir acompanhando", explica. Além disso, os homens também já começam a procurar este tipo de peças para si, seguindo uma tendência que se verifica já em países como a Alemanha e a Holanda.
As peças são acessíveis ao cidadão comum e podem ser feitas com materiais tão diversos como pensos rápidos, sal ou água. Quanto à evolução desta arte em Portugal, Inês Nunes não poderia ser mais optimista. "Sou portuguesa com orgulho, sei que temos excelentes profissionais e como estamos bem reputados no panorama internacional só nos falta mesmo pôr a máquina da economia a funcionar, no que diz respeito à joalharia contemporânea. E depois é só mesmo melhorar as parcerias e cooperações entre autores, empresas e indústrias", concluiu.