06 fevereiro 2012

Ser ou ser no Bairro Alto, eis a questão


Por Rodrigo Nogueira/Time Out

No Bairro Alto, não é lá muito comum um bar poder gabar-se de ter espaço. O Be Bairro Alto, na Travessa dos Inglesinhos, pode: tem quase 500 metros quadrados, para ninguém se andar a acotovelar. E como se isso não bastasse, também pode dizer que as pessoas que lá vão não vão só comprar bebidas para ir beber para a rua. Isso não acontece, o que faz com que seja dos poucos bares da zona que não tem os típicos grupos de jovens a beber cerveja mesmo à porta (só a alguns metros, cortesia de outros bares e lojas das redondezas). Ou, pelo menos, que tenha sido lá comprada. Não, quem vai ao Be Bairro Alto só sai depois de cumprida a tarefa de estar lá uns tempos. E, além disto tudo, o Be ainda se pode gabar de não ser bem um bar, de ser bem mais que isso.
Expliquemos. Ao mesmo tempo, o sítio que tem dois espaçosos andares separados por escadarias e escadas em caracol serve de snack-bar, discobar (expressão da gerência), restaurante (é para isso que serve o andar de cima) que serve comida portuguesa a grupos e não só e exibe filmes clássico (sem som) durante os jantares, café lounge (a decoração ecléctica, com sofás e sítios confortáveis para sentar remete justamente para aí), e ainda espaço de concertos (a um preço que ronda os cinco euros) e outros eventos (até pode ser alugado por quem quiser lá casar-se ou algo do género). Ou seja, o tamanho é bem aproveitado, seja de manhã (de terça a sexta o espaço funciona apenas como snack-bar das dez da manhã às oito da noite) ou à noite (fecha às duas da manhã aos dias de semana e às três ao fim-de-semana). Há DJs às sextas e sábados e por vezes também às quintas. Os residentes são Lucio Monteiro, Yugo Dee e Wilson Vilares, mas nomes como Señor Pelota, John Holmes ou Andy H também já passaram por lá).
Nos outros dias (o espaço fecha ao domingo e à segunda) há música ambiente, mas também dá para dançar. A programação vai arrancar em força agora nesta recta inicial de 2012. Na sexta-feira, por exemplo, há uma festa chamada “American Night”, com um concerto de Diamondancer, cantora de Detroit que se move pelo nu-jazz e deep house, acompanhada por DJ Jerry the Cat (que passa música depois) e The Dark River Collective, tudo seguido de um DJ set de Mikie Wilde.
O espaço não é novo: já foi o BBA, esteve fechado uns tempos, e em 2010 abriu como Maria Bairro Alto, e só no Verão do ano passado é que mudou de nome, gerência e decoração para se tornar o Be Bairro Alto. Desses tempos, mantém-se o híbrido de restaurante/bar e as fotografias de pessoas a trabalhar e a viver na Lisboa antiga numa das paredes de quem sobe ao primeiro andar. Mas a história que tem não quer dizer que seja um sítio óbvio. A zona é das mais pacatas do Bairro Alto, a porta de entrada é grande mas bastante discreta, e quem a vê da rua não sonha o quão amplo é o espaço que se esconde lá dentro. A isso também ajuda o facto de não funcionar como os outros bares. Os copos de plástico são raros e só existem para clientes que tenham de ir embora à pressa e queiram na mesma acabar as bebidas pelas quais pagaram. Não há cá pedi-las em plástico de origem. Porque o Be Bairro Alto não é mesmo como os outros.
Be Bairro Alto. Tv dos Inglesinhos, 48/50. Ter-Qui: 10.00-02.00; Sex: 10.00-03.00; Sáb: 20.00-02.00.