por António Mendes Nunes
Uma das ruas principais do Bairro Alto é a Rua da Rosa que o atravessa de uma ponta à outra no sentido sul-norte.
Como se sabe a maior parte das ruas antigas de Lisboa foram buscar a designação às pessoas que aí moraram, pelos nomes ou pelos cargos, porque o costume moderno de crismar as vias com nomes de pessoas que pouco ou nada têm a ver com um sítio é coisa de finais do século XIX.
Durante muitos anos procuraram os olissipógrafos um rasto da tal Rosa, vasculhando cartórios de igrejas, assentamentos de casamentos, escrituras e toda uma sorte de documentos, sem que dela houvesse rasto.
E aqui começa a maior graça desta história, provavelmente facto pouco conhecido dos portugueses. O nome próprio Rosa não aparece em qualquer documento anterior quase ao final do século XVII, trazido nessa altura do Peru pela devoção que nos primeiros tempos se criara a Santa Rosa de Lima.
Não foi portanto, uma mulher chamada Rosa que deu nome à rua. Foi Gustavo de Matos Sequeira, outro ilustre olissipógrafo quem, em nota de rodapé à terceira edição de "O Bairro Alto" de Júlio de Castilho, nos esclarece que a designação derivaria de uma rosa-dos-ventos que por ali haveria a adornar o cunhal de um qualquer edifício ou, segunda hipótese, a escultura de uma rosa (flor) que servisse de marco divisório entre propriedades. No Bairro Alto já não se conhece nenhuma, mas nas escadinhas de S. Miguel, em Alfama, ainda existe uma dessas inscrições ao nível de um primeiro andar.