09 março 2011

O FIDALGO DO BAIRRO

Um sítio limpinho agrada a muita gente. E Tiago Rio não é excepção. Ainda mais quando tem um arroz de pato perfeito.

O Fidalgo sempre existiu. E não é como alguns restaurantes antigos que mudaram tantas vezes de local, de donos e de tudo o mais, que só o nome é que continua igual. O dono do Fidalgo trabalha no restaurante há mais de três décadas, que já era do seu pai. E suspeito que a cozinheira também lá esteja desde essa altura.
Não é que o interior aponte para isso: foi recentemente renovado com estilo e gosto: branco, clean, com muita pedra. O tamanho pequeno (30 lugares) e as garrafas de vidro expostas nas paredes fazem com que não seja demasiado clínico.
Felizmente, a comida sobreviveu à renovação. Acho que a maior parte das receitas e técnicas que servem hoje já eram consideradas tradicionais quando abriu, antes da revolução. O que é especialmente agradável num local tão moderno e bem arranjadinho.
O que podia ser mais bem arranjadinho era o presunto. O nosso prato foi cortado pelo menos um dia antes (de acordo com o empregado). Pedimos e deram-nos um prato cortado de fresco, mas era tão fraco que talvez o velho tivesse sido melhor.
Sopa de grelos sempre foi uma coisa pouco emocionante... e continua a ser. Mas muito boa, apesar disso, e reconfortante. De prato principal, os filetes de peixe-galo, firmes, estavam bem fritos num polme com ervas e servidos com salada mista. 

O arroz de pato foi o melhor dos pratos. E não quer dizer “caviar de pato liquefeito cozinhado a 55º com gelado de arroz feito com nitrogénio líquido”, quer dizer arroz de pato clássico, feito na perfeição. O arroz estava cozinhado, mas não demasiado, os grãos separados, sem estarem secos. Por cima, o tostadinho uniforme, dourado, com um chouriço estaladiço mas ainda suculento. A proporção exacta entre arroz e pato (ou seja, muito pato). E uma dose maior do que eu consegui comer por 9,50€. Na cozinha está de certeza alguém que já fez arroz de pato mais de um milhão de vezes e que já reflectiu sobre como fazê-lo.
Uma tarte de gila extremamente doce e densa, como eu gosto. E bolo de bolacha, que estava tão perfeito como o arroz de pato. Não há opções mais baratas, mas uma sopa, arroz e sobremesa por 15€ é um excelente valor. O vinho banal a copo por 3,5€ é menos excelente, mas há garrafas a vários preços. Tenho um velho amigo que gosta de comida simples e tradicional, mas sempre que lhe falo de um restaurante, a primeira coisa que me pergunta é se é limpinho. O Fidalgo é o restaurante perfeito para ele, onde quero levá-lo. Suspeito que também agrade a muito boa gente. 

Rua da Barroca, 27 (Bairro Alto) 21 342 2900