22 janeiro 2010

BAIRRO ALTO SITIADO


Apesar de o site da C.M.L/EMEL continuar a divulgar o regulamento de acesso ao Bairro Alto que inclui horários de cargas e descargas, na prática tal desapareceu. Foi banido.
Nos últimos dois dias, todos os fornecedores que se apresentaram para entrar no Bairro, dentro do horário de cargas e descargas, foram barrados à entrada e impedidos de entrar.
De acordo com os funcionários de serviço às entradas do Bairro tornou-se obrigatória a compra de um cartão de acesso, por 25 Euros, para que a viatura de qualquer empresa de distribuição, ou outra, tenha acesso ao Bairro Alto.

Porquê? pergunta-se. E não se compreende.

É mais um contributo oficial para a desertificação comercial diurna do Bairro Alto, mais um ataque à liberdade de comerciar e ao comércio de proximidade.

Na verdade o condicionamento do trânsito foi justificado por razões de segurança. O estacionamento caótico impedia a circulação de bombeiros e ambulâncias. A medida teve efeitos muito positivos no ordenamento do trânsito, no estacionamento e na segurança do Bairro. Por outro lado veio prejudicar a actividade comercial diurna, ajudando a isolar o Bairro Alto. Os mais prejudicados tem sido os comerciantes e as empresas que necessitam de distribuir os produtos que comercializam. O grande prejudicado tem sido o Bairro Alto, cada vez mais dependente das actividades nocturnas, enquanto o comércio de próximidade diurno vê as dificuldades redobradas.
Já tinhamos que passar por situações caricatas quando alguns funcionários da EMEL confundiam assistência técnica e situações de emergência, com cargas e descargas.
Por exemplo, se uma empresa vinha substituir o vidro de uma montra partido ou arranjar um qualquer aparelho avariado (arca frigorífica, ar condicionado, etc), seria natural que permitissem a entrada dos técnicos e equipamentos dentro de qualquer horário, mas não era certo, tudo dependia da discricionariedade ou do bom senso do funcionário que estivesse de serviço.

Agora é que não podem mesmo entrar. Precisam de comprar o cartão e pagar portagem.
Passámos a trabalhar num gueto.

O mais espantoso é que não tem existido motivos que justificam tal medida. Antes pelo contrário. Em Novembro/Dezembro o pilarete de entrada na Rua das Gáveas, ao Camões, esteve em baixo, criando-se assim um canal de entrada livre durante o dia. Resultaram daí problemas? Não.
Terminaram os engarrafamentos no Largo Camões, a actividade comercial do Bairro fluiu mais fácilmente e não se verificaram grandes abusos. Provou-se que, durante o dia, quem vem ao Bairro Alto entra, trata do que tem a tratar e vai-se embora.
Fechar o Bairro à sua dinâmica natural é condená-lo à desertificação diurna. É atraiçoar uma longa História. É fazer mal a Lisboa.


A Direcção da Associação de Comerciantes do Bairro Alto.
Lisboa, 21 de Janeiro de 2010.