Comerciantes dizem que Polícia Municipal só intervém para fiscalizar encerramento dos espaços.
Com o encerramento obrigatório às 2 horas e a promessa de reforço de efectivos policiais no Bairro Alto, os comerciantes desta zona de diversão nocturna decidiram deixar de pagar a agentes da PSP para vigiar as ruas. Novembro foi o último mês em que os polícias gratificados o fizeram. Agora, dizem os gerentes dos espaços, voltou em força um problema antigo, o tráfico de droga, que não tinha desaparecido por completo, mas estava mais controlado.
Nas ruas da Atalaia e do Diário de Noticias, como o METRO pôde comprovar numa sexta-feira à noite, os "dealers" assediavam os clientes que estavam na rua. Eram vários, e deslocavam-se muitas vezes aos pares. Um deles escondia mesmo parte do estupefaciente numa sarjeta, para a eventualidade de ser surpreendido com uma grande quantidade de produto.
"Piorou bastante. Em todas as esquinas estão traficantes. Ainda esta quinta-feira, uns clientes tiveram problemas por causa deles", diz ao METRO Bruno Pereira, gerente do Jurgen's Bar, acrescentando que a situação tinha "melhorado imenso" quando o policiamento era custeado pelos comerciantes. "Agora, voltou ao mesmo", acrescenta Maria de Lurdes, do restaurante Império dos Sentidos.
Recolher obrigatório
Segundo Belino Costa, presidente da Associação de Comerciantes do Bairro Alto, esta medida, que durou quatro meses, "deixou os comerciantes satisfeitos". "Notou-se logo um ambiente diferente no Bairro Alto", diz. "No total, eram pagos dez mil euros mensais, 120 por cada aderente. Quatro a cinco polícias estavam responsáveis pelo turno das 20 às 24 horas e seis a oito pelas horas seguintes.
Com a obrigatoriedade de encerramento às 2 horas, os associados reuniram-se com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, onde lhes foi prometido que a Polícia Municipal iria destacar mais agentes para o local. Assim confirma ao METRO Duarte Moral, assessor do autarca: "Esse reforço está a ser cumprido".
Contudo, os comerciantes sentem que os agentes no Bairro Alto estão presentes para fiscalizar o "recolher obrigatório" e não para impedir o tráfico. "Como é possível que a polícia não veja o que eu vejo - gente a traficar, a esconder droga em buracos -, e às 2 h estejam dez agentes à minha porta para verificar se já encerrei?", interroga Cristina Almeida, proprietária do Chueca Bar, na Rua da Atalaia.
Ao METRO, a Polícia Municipal esclarece que fiscalizar o fecho de bares é uma das suas competências. "Os nossos efectivos podem intervir caso detectem uma situação dessas, mas estamos lá essencialmente para fazer cumprir regulamentos municipais", diz André Gomes, comandante desta força. Contudo, promete que vai tomar "mais atenção" ao problema.
Já fonte da PSP garante ao METRO que o "policiamento foi reforçado já na altura dos gratificados, e manteve-se". No entanto, admite, "nessa altura estava provavelmente mais controlado".
ANDRÉ BARBOSA
Metro, 28 de Janeiro 2008