Bairro Alto continua na vanguarda de Lisboa 500 anos depois
Lisboa, 9 mar (EFE).- Com 500 anos, Bairro Alto e
a sua mistura lojas modernas, tradição e intensa vida noturna mantém-se como a
zona mais dinâmica de Lisboa sem perder a marca que deixaram, nas ruas
empedradas, grandes descobridores e intelectuais portugueses.
Durante todo este ano, e especialmente no verão,
este bairro com pontos tão destacados como o miradouro de São Pedro de
Alcântara ou a Praça de Camões, celebra meio milénio, caracterizado pela
capacidade de "reatualizar-se e reestruturar-se", explica à EFE o
arquiteto e historiador Hélder Carita.
Tem uma dinâmica muito particular, afirma, pela
sua capacidade de atrair uma população "mais aberta e liberal", que
lhe permite ser hoje o lugar da "movida" lisboeta.
Uma "movida" que se associa a um
ruidoso ambiente noturno que também gera tensões vizinhas e medidas polémicas,
como a limitação dos horários de abertura de estabelecimentos comerciais ou a
colocação de câmaras de segurança nas ruas.
No entanto são as galerias de arte, as livrarias
ou a presença do conservatório nacional de dança que mais caracterizam o
"Bairro", como denominam seus moradores.
Além disso, nas suas vitrines de moda ainda não
governam as marcas de luxo ou as grandes cadeias "low-cost", como em
outras zonas de Lisboa.
No Bairro Alto predominam as pequenas lojas que
misturam a moda portuguesa com as últimas tendências internacionais e as lojas
dos estilistas que desfilam nas passerelle nacionais.
O melhor acento português impera nesta
cosmopolita zona alta da cidade, "um bairro que lembra os avanços",
diz Carita, como o facto de ter amparado o primeiro traçado geométrico de
Lisboa, a partir de 1513, e abrigar o florescimento da política e a cultura da
época.
As obras daquele projeto urbano que agora
completa meio século começaram à duas décadas atrás, para liderar a
reestruturação da cidade e assentá-la como a "cabeça" do Império
português.
Durante os cinco séculos seguintes o Bairro Alto,
conhecido antes como Vila Nova de Andrade, acolheu o autor do primeiro
dicionário português, viu os jesuítas cultivar os seus conhecimentos e foi
lugar de encontro das tertúlias de liberais e republicanos.
Os seus edifícios conseguiram sobreviver a muitas
mudanças e ao grande terremoto de 1755, e conservar uma arquitetura
"coerente" de pedra e cal que para Carita é "quase uma peça
musical" pela regularidade métrica dos sublinhados das suas molduras e
esquinas.
"Apesar de estar no centro da cidade, esta
homogeneidade lhe outorga certa intimidade", opina Helder Carita, também
comissário de uma das exposições fotográficas que abriram as celebrações do
aniversário, "Bairro Alto: mutações e convivências pacíficas",
situada num dos palacetes que salpicam a zona.
Estes edifícios de similar construção situam-se
em ruas com nomes como "Diário de Notícias" ou "Imprensa
Nacional" que lembram como durante o século XIX e parte do XX abrigaram os
mais importantes jornais de imprensas do país.
O último ressurgimento do "Bairro"
aconteceu depois do 25 de Abril, embora foi sobretudo a partir dos anos 80,
quando se começou a transformar em conjunto a vida noturna.
No Bairro Alto a noite vive-se na rua, onde
transborda a clientela errante dos locais de diversão noturna, onde abundam
universitários e o acento internacional dos estudantes de Erasmus, uma das
contrastadas povoações dominantes na zona.
"A maioria dos habitantes são idosos e
jovens que passeiam pelo Bairro como o caso dos Erasmus, além de alguns
intelectuais mais estáveis", explica à EFE Irene Lopes, presidente de um
dos distritos municipais que formam o Bairro Alto.
Cerca de 6.000 moradores mantêm em movimento um
bairro que para Helder Carita, conta com atrativos para garantir o seu futuro
"por muitos mais séculos".
Ana Aranda