11 março 2013

NA VANGUARDA



Bairro Alto continua na vanguarda de Lisboa 500 anos depois


Lisboa, 9 mar (EFE).- Com 500 anos, Bairro Alto e a sua mistura lojas modernas, tradição e intensa vida noturna mantém-se como a zona mais dinâmica de Lisboa sem perder a marca que deixaram, nas ruas empedradas, grandes descobridores e intelectuais portugueses.
Durante todo este ano, e especialmente no verão, este bairro com pontos tão destacados como o miradouro de São Pedro de Alcântara ou a Praça de Camões, celebra meio milénio, caracterizado pela capacidade de "reatualizar-se e reestruturar-se", explica à EFE o arquiteto e historiador Hélder Carita.
Tem uma dinâmica muito particular, afirma, pela sua capacidade de atrair uma população "mais aberta e liberal", que lhe permite ser hoje o lugar da "movida" lisboeta.
Uma "movida" que se associa a um ruidoso ambiente noturno que também gera tensões vizinhas e medidas polémicas, como a limitação dos horários de abertura de estabelecimentos comerciais ou a colocação de câmaras de segurança nas ruas.
No entanto são as galerias de arte, as livrarias ou a presença do conservatório nacional de dança que mais caracterizam o "Bairro", como denominam seus moradores.
Além disso, nas suas vitrines de moda ainda não governam as marcas de luxo ou as grandes cadeias "low-cost", como em outras zonas de Lisboa.
No Bairro Alto predominam as pequenas lojas que misturam a moda portuguesa com as últimas tendências internacionais e as lojas dos estilistas que desfilam nas passerelle nacionais.
O melhor acento português impera nesta cosmopolita zona alta da cidade, "um bairro que lembra os avanços", diz Carita, como o facto de ter amparado o primeiro traçado geométrico de Lisboa, a partir de 1513, e abrigar o florescimento da política e a cultura da época.
As obras daquele projeto urbano que agora completa meio século começaram à duas décadas atrás, para liderar a reestruturação da cidade e assentá-la como a "cabeça" do Império português.
Durante os cinco séculos seguintes o Bairro Alto, conhecido antes como Vila Nova de Andrade, acolheu o autor do primeiro dicionário português, viu os jesuítas cultivar os seus conhecimentos e foi lugar de encontro das tertúlias de liberais e republicanos.
Os seus edifícios conseguiram sobreviver a muitas mudanças e ao grande terremoto de 1755, e conservar uma arquitetura "coerente" de pedra e cal que para Carita é "quase uma peça musical" pela regularidade métrica dos sublinhados das suas molduras e esquinas.
"Apesar de estar no centro da cidade, esta homogeneidade lhe outorga certa intimidade", opina Helder Carita, também comissário de uma das exposições fotográficas que abriram as celebrações do aniversário, "Bairro Alto: mutações e convivências pacíficas", situada num dos palacetes que salpicam a zona.
Estes edifícios de similar construção situam-se em ruas com nomes como "Diário de Notícias" ou "Imprensa Nacional" que lembram como durante o século XIX e parte do XX abrigaram os mais importantes jornais de imprensas do país.
O último ressurgimento do "Bairro" aconteceu depois do 25 de Abril, embora foi sobretudo a partir dos anos 80, quando se começou a transformar em conjunto a vida noturna.
No Bairro Alto a noite vive-se na rua, onde transborda a clientela errante dos locais de diversão noturna, onde abundam universitários e o acento internacional dos estudantes de Erasmus, uma das contrastadas povoações dominantes na zona.
"A maioria dos habitantes são idosos e jovens que passeiam pelo Bairro como o caso dos Erasmus, além de alguns intelectuais mais estáveis", explica à EFE Irene Lopes, presidente de um dos distritos municipais que formam o Bairro Alto.
Cerca de 6.000 moradores mantêm em movimento um bairro que para Helder Carita, conta com atrativos para garantir o seu futuro "por muitos mais séculos".
Ana Aranda