31 março 2009

IR AO MUSEU DE S. ROQUE


Lisboa
Museu de São Roque recebeu mais de 7.000 pessoas num mês


«Desde 20 de Dezembro visitaram o Museu de S. Roque 7012 pessoas», lê-se na nota enviada à imprensa, em que se refere que, «em 2004, último ano completo em que o Museu esteve aberto, foi visitado por 11.900 pessoas».


Desde a abertura até 11 de Janeiro, quando o Museu celebrou o 104.º aniversário, as entradas foram gratuitas.Projecto do arquitecto Carlos Pietra Torres, o 'novo' Museu de S. Roque, ao Bairro Alto, reaberto ao cabo de dois anos e meio de obras, duplicou a área de exposição, que permite agora expor 300 peças, mais 186 do que anteriormente, além de 140 paramentos. As obras de renovação do espaço, que inclui a Igreja de S. Roque, teve um custo de cerca de dois milhões de euros, em parte suportado pelo Plano Operacional de Cultural (POC).Além do aumento da área expositiva, o Museu, pertencente à Santa casa da Misericórdia de Lisboa, dispõe agora de uma loja e um café.Entre as peças em exposição figuram os 140 paramentos da Capela de S. João Baptista, 'núcleo fundador' deste Museu de Arte inaugurado oficialmente em 1905.


Lusa/SOL

27 março 2009

ADIANTA A HORA


Às zero horas do próximo domingo, dia 29, os relógios adiantam-se uma hora. Isso não significará que os estabelecimentos de restauração e bebidas “percam” uma hora de laboração. A prática anterior é aceite pela actual vereação da Câmara Municipal de Lisboa que, em esclarecimento escrito, nos informou que todos poderão cumprir o horário de acordo com a hora antiga.

A Direcção da
ACBA

23 março 2009

GABIREST PARA O LICENCIAMENTO


A AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, e a Câmara Municipal de Lisboa, procederam no passado dia 19 de Março, à inauguração do GABIREST Lisboa – Gabinete de Apoio à Actividade de Restauração e Bebidas, que resolverá a problemática dos licenciamentos, e legalização, dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas do concelho de Lisboa.Inserido nas medidas de simplificação do Programa Simplis, este Gabinete tem como função prioritária a análise dos aproximadamente 4.000 processos actualmente pendentes nos serviços da Câmara Municipal de Lisboa.É, ainda, função do GABIREST Lisboa, a implementação de medidas que tenham em vista a simplificação e desburocratização de processos, cabendo-lhes a análise e preparação da instrução de novos pedidos de licenciamento, comunicação prévia ou de autorização de utilização.


www.aresp.pt/

16 março 2009

LICENCIAMENTO COMERCIAL


GABINETE DE APOIO AO LICENCIAMENTO COMERCIAL



A Associação de Comerciantes do Bairro Alto disponibiliza aos associados um novo gabinete de atendimento com um técnico especializado em licenciamento comercial.

Informe-se. Legalize a sua actividade. Cumpra as exigências legais.

13 março 2009

ANTÓNIO COSTA NO BAIRRO

Limpeza do Bairro Alto é "luta de resistência" - António Costa


Lisboa, 12 Mar (Lusa) - O presidente da Câmara de Lisboa classificou como "uma luta de resistência" a intervenção de limpeza urbana no Bairro Alto, que a autarquia vai estender ao Chiado, Alto de Santa Catarina e à zona da Bica.
"Isto é uma luta de resistência e só com resistência venceremos a batalha, com a manutenção diária para que não regressem às fachadas as pinturas que não devem regressar", disse António Costa, na cerimónia que marcou o final da primeira fase da operação.
A intervenção no Bairro Alto, que arrancou em Outubro, envolve limpeza de fachadas, reforço de policiamento e da iluminação pública e mudança de horários nocturnos dos estabelecimentos comerciais.
Ao longo dos primeiros cinco meses foram limpas as fachadas de 98 edifícios.
Antes da cerimónia de balanço da primeira fase da operação, que António Costa considerou "bastante positivo", o autarca e uma longa comitiva de vereadores, técnicos camarários e jornalistas passeou pelas zonas do Bairro Alto já abrangidas pela intervenção.
"Mesmo assim ainda cheira", confessou António Costa ao director do Departamento Municipal de Ambiente Urbano, Ângelo Mesquita, referindo-se ao cheio a urina na Travessa das Salgadeiras, uma das duas ruas - a outra foi a Rua das Gáveas - a que a autarquia alargou a limpeza e onde reforçou a lavagem dos pavimentos.
"Mesmo assim a lavagem é feita três vezes por semana e esta foi lavada ontem", respondeu Ângelo Mesquita.
O presidente da autarquia sublinhou ainda a importância do reforço da iluminação pública no Bairro Alto, com a colocação de 350 candeeiros, tarefa que deverá ficar concluída até Julho.
"Este trabalho na iluminação pública é o melhor contributo para reforçar a segurança do Bairro Alto, não só porque permite um melhor reconhecimento facial de quem circula, mas também porque será decisivo para a futura instalação do sistema de videovigilância", afirmou António Costa.
As três fases da intervenção no Bairro Alto vão abranger um total de 353 edifícios e deverão custar 300.000 euros, verba proveniente das contrapartidas do casino.
No âmbito da operação a decorrer no Bairro Alto a autarquia tinha assinado em Outubro um protocolo com a procuradoria-geral Distrital de Lisboa e a PSP que previa que quem fosse apanhado em flagrante delito a pintar "graffitis" seria castigado com a limpeza da fachada danificada.
Em cinco meses só uma pessoa foi apanhada nesta situação.
SO.

11 março 2009

JN: "AUMENTOU A INSEGURANÇA"

Novo horário leva mais traficantes ao Bairro Alto
Comerciantes e clientela criticam plano para regular 'movida' pela falta de policiamento

NUNO MIGUEL ROPIO

Diminuíram os grafitos mas aumentou a insegurança. Este é o balanço que fazem clientes e comerciantes do Bairro Alto, em Lisboa, pouco mais de três meses sobre o plano para melhorar a qualidade de vida na zona.
Noite de sexta-feira, no Bairro Alto, em Lisboa. A poucos minutos da meia-noite, o parque de estacionamento do Largo Camões está cheio e as ruas preenchidas com automóveis . Os mais teimosos deslocam-se até ao Príncipe Real mas o cenário é semelhante.
"Não há lugares", exclama Joana Baieta, enquanto a amiga tenta enfiar um velho Renault junto a uma loja de conveniência. "Sempre viemos para o bairro tarde. Com estas medidas há que vir mais cedo, senão às 2 horas temos de sair e não aproveitamos nada", queixa-se Manuela, depois de estacionar o veículo.
Aqui e acolá ouve-se igual descontentamento. "Porquê fechar mais cedo se não há aqui discotecas para onde ir depois", explica Pedro Portugal, junto ao Bar 'Kitsh', na Rua da Atalaia. Metros à frente, na Travessa dos Fiéis de Deus, alguns traficantes - seis jovens - importunam a 'movida', oferecendo "hash". Outros tantos estão espalhados por mais ruas, com a mesma atitude.
"Alguns [traficantes] moram cá e há os amigos dos moradores. Quando pagámos, alguns meses, por uma equipa de reforço da polícia era tudo mais calmo e os traficantes não se faziam notar", diz a proprietária de um dos espaços, sob anonimato, traduzindo um receio generalizado dos empresários, desde a aplicação do plano da Câmara de Lisboa, em Novembro. Uma medida que estabeleceu novos horários de funcionamento, devido aos anos de queixas dos moradores, e que previa mais policiamento. Mas enquanto o JN esteve na zona, segurança nem vê-la.
Fonte do Comando Metropolitano da PSP adiantou, ao JN, que "não houve uma alteração significativa do tráfico de estupefacientes na área". "Quando existiram remunerados [pagos pelos comerciantes] o controlo foi maior. Mas, neste momento, há um reforço de segurança, à luz do Programa Integrado do Policiamento de Proximidade", revelou.

http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Lisboa&Concelho=Lisboa&Option=Interior&content_id=1163761

09 março 2009

FADOS AO FIM DE TARDE


Mafalda Taborda e Marco Oliveira são os fadistas que começarão por animar as sessões de fado que a partir de hoje vão animar o Teatro Gymnásio (Centro Comercial Chiado, à Rua da Misericórdia) de segunda a sexta-feira, pelas 19 horas.
Um excelente fim de tarde para todos quantos apreciam a “canção nacional”.

05 março 2009

Março no Frágil tem Música e Poesia


José Agostinho Baptista é o único autor vivo que será homenageado no ciclo de poesia que hoje se inicia no bar Frágil, ao Bairro Alto em Lisboa.

«Esta experiência foi iniciada há dois anos quando celebrámos os 25 anos do bar e tivemos muito sucesso, e ficou logo a ideia de voltar a fazer» , disse Carolina Quadros, da organização.

O editor António Lampreia, que faz também parte da organização, disse, por seu turno, que «este ano escolheu-se um verso de cada poeta para titular a respectiva sessão, tendo-se procurado uma interligação poética entre os autores escolhidos."

Paralelamente a este ciclo de poesia está patente no Frágil uma exposição de pintura de Filomena Carmo Pinto.

Referindo-se a esta mostra, Carolina Quadros afirmou: «A pintura de Filomena Carmo Pinto é descritiva, tenciona contar uma história, ser reflexo de uma realidade».

O Frágil passa a ser um local de privilégio ás quintas de Março. Divertimento e animação ao mesmo tempo que pode saborear uma serenidade poética e uma contemplação pictórica.


Zita Ferreira Braga


http://hardmusica.pt/noticia_detalhe.php?cd_noticia=1109

03 março 2009

AS SETE VIDAS DO BAIRRO ALTO


Vítor Belanciano


Novo equilíbrio é necessário para o futuro do único bairro cultural de Lisboa. O episódio do encerramento dos bares às 2 da manhã apenas veio explicitar isso.


Não é novo. Já ouvimos desabafos destes ao longo dos anos ("o Bairro Alto já não é o que era", "está cada vez mais degradado", "as ruas estão uma miséria", "gente a mais"), mas no último ano as visões sombrias aumentaram. Ele é o ruído, bares em excesso, toxicodependência nas ruas ou conflitos de interesses entre os diversos actores. O equilíbrio parece em risco e a mais recente medida dos poderes públicos de encerrar os bares às duas da madrugada é apenas mais um capítulo desse debate. O Bairro Alto é importante. O "boom" dos anos 80, que o afirmou como lugar de boémia e cultura, foi determinante em termos simbólicos, mas muito antes já era lugar de encontro, de tertúlia e de animação cultural. Hoje é área residencial. É zona de comércio, animação nocturna e de restauração que não só tem resistido, nas últimas décadas, ao irromper de outros pólos (Avenida 24 de Julho, Docas, Expo) como nos últimos anos - principalmente depois da abertura do metro no Chiado - tem atraído mais gente. É em termos culturais uma das áreas mais activas e atractivas da cidade, o que pode ser constatado pela quantidade e qualidade de agentes e actividades que aí se concentram e se relacionam. É dessa conjugação de actuações, e da forma como se relacionam entre si, que depende o equilíbrio da zona. Uma harmonia que aqueles que viveram os anos 80 dizem já não existir. O "meu" Bairro "O 'meu' Bairro morreu", afirma Manuel Alvarez, arquitecto, 45 anos. "Hoje vou lá, vejo toda a gente na rua, de copo na mão e não sinto vontade de partilhar. Antes jantava-se, conversava-se, dançava-se. O Bairro Alto está moribundo. Está a morrer aos poucos." "Aborreço-me", afirma o cineasta Jorge Cramez que viveu intensamente a década de 90 [ver texto sobre o bar Captain Kirk] "Posso pensar nisso dessa forma, mas não me parece que tenha a ver com a idade. Sinto é que antes havia um ritual no sair que se perdeu." Ambos, no entanto, diferenciam a vertente diurna e nocturna, a vocação cultural da actividade noctívaga. Tal como DJ Rui Murka, 36 anos. "Hoje a minha relação com o Bairro é diurna, para comer, cortar o cabelo, fazer compras na Rua do Norte, comprar discos ou, à noite, ver concertos, exposições ou encontrar-me com alguém." Mas esta visão está longe de ser partilhada por gerações mais novas.


Com maior incidência às sextas e sábados, chegam em grupos, normalmente encontram-se na Praça Camões a partir das 22h. Pouco tempo depois enchem as ruas, o estacionamento torna-se impossível, a circulação pedonal complicada e, muitas vezes, os parapeitos das janelas servem para deixar copos vazios. "Quando tinha 15 anos ia para o Loft, em Santos, ou para o Paradise Garage, em Alcântara, porque os meus pais não gostavam que fosse para o Bairro", conta Ana Prazeres, estudante, 19 anos. "Mas há dois anos comecei a vir para aqui e gosto muito". Foi no Bairro que começou a contactar com "gente das mais diversas 'tribos'." O companheiro, Pedro Freire, 20 anos, reforça: "Isto é único, não existe nada assim no país, onde se possa vir beber um copo, ver um concerto na ZDB ou conviver nas ruas com pessoas que não se encontram em mais nenhum local." O valor icónico de lugares que marcaram as décadas de 80 e 90, como o Frágil, Três Pastorinhos ou Captain Kirk perdeu-se. Claro que continuam a existir espaços que se diferenciam (bares como Maria Caxuxa, Clube da Esquina, Mexe Café ou Purex, bares dançantes como o Frágil ou o Bedroom, livrarias como a Ler Devagar ou a Galeria ZDB), mas é na rua que tudo acontece. Apesar das tentativas de controlo, os bares multiplicaram-se. O investigador Pedro Costa, que estudou o bairro [ver texto nestas páginas], diz que os poderes públicos foram sensíveis à questão. "O problema é que isso não inviabilizou nada, simplesmente inflacionou os preços, fez com que os trespasses se fossem multiplicando e criaram-se subterfúgios, como os bares de apoio." Um dono de um bar, que prefere manter o anonimato, refere que esse é o problema do território neste momento. "É injusto olhar para todos os espaços nocturnos de forma nivelada. Alguns geram interesse cultural, porque fazem participar as pessoas numa dinâmica criativa e estimulam, enquanto outros são pequenos sítios que se limitam a vender copos para a rua. Como é possível que sejam tratados de forma uniforme?" Os conflitos no bairro, resultantes da exploração dos recursos e nas formas de os regular, não são novos. As tensões são múltiplas, seja entre residentes e frequentadores, entre moradores tradicionais e novos residentes, entre comércio tradicional e novas actividades, entre utilizadores diurnos e nocturnos ou entre agentes culturais e reguladores públicos das suas actividades. Até agora, a intervenção externa não tem sido muito necessária. Tem havido uma espécie de auto-regulação que emerge do próprio sistema do bairro, resultante de uma multiplicidade de mecanismos. Mas os perigos decorrentes do excesso - de bares e de pessoas, com o que isso acarreta de descontrole à volta - podem levar ao colapso desse processo.


O conflito à volta dos horários de encerramento apenas explicitou essa ideia. A intervenção pública poderá não fazer sentido em muitas questões, mas no caso da limitação do ruído, é defensável que aconteça, dizem os moradores. Para reduzir o barulho, a Câmara Municipal de Lisboa implementou, em Outubro, o encerramento dos bares às duas da manhã. Belino Costa da Associação de Comerciantes do Bairro Alto diz que existe uma "enorme insatisfação", já que é uma medida de excepção que "impede a concorrência em igualdade de circunstâncias com outras zonas da cidade." "Não duvido das boas intenções de quem tomou essas medidas", diz Mário Augusto, designer, de 29 anos, que vive na zona, "o problema são os efeitos colaterais. Agora toda a gente sai dos bares em massa à mesma hora, ficando a marinar por aí, criando focos de tensão. É como a história dos 'graffiti'. Toda a gente sabe que as zonas onde são proibidos são as preferidas de quem os faz. Ou seja, ao querer reprimir-se, está-se a convidar." A questão dos horários é apenas uma, entre outras, reveladora de conflitos de interesses, num momento em que a área vive momentos de transformação. O receio da especulação imobiliária - intensificado desde que se soube da reconversão, em condomínio privado, do Convento dos Inglesinhos - ou o temor que a zona se torne demasiado turística, são outros temas que provocam debate aceso. Mas, apesar do equilíbrio precário e da insatisfação de muitos actores envolvidos na dinâmica de um bairro cultural com as características do Bairro Alto, nada de essencial ainda se perdeu. Ao longo da história a zona tem conseguido manter o seu dinamismo e apresentado uma grande capacidade de regeneração. Hoje continua a manter públicos, renovando-os, e conserva o ambiente - apesar de se poder dizer que está mais degradado - que lhe deu reputação, ao mesmo tempo que manteve as redes e formas específicas de interacção com outras actividades que lhe permitiram afirmar-se. Nas cidades estáveis, maduras e dinâmicas, com suficiente massa crítica, existe grande capacidade de renovação. Há aptidão para alimentar, periodicamente, novos ambientes criativos.


Nos últimos anos, o prolongamento do Bairro Alto tem sido encetado na direcção do bairro da Bica, Cais do Sodré, Cais da Pedra (Lux) ou Santos. Mas até pode acontecer que surja um novo eixo cultural e boémio noutra zona da cidade. "Lisboa tem dimensão para ter outros bairros culturais", defende Pedro Costa, "mas necessitariam de uma actuação pública mais vincada do que acontece no Bairro Alto, seja no sentido de facilitar a apropriação do espaço pelas actividades culturais, seja de disciplinar as operações urbanísticas que lá acontecem." Quem sabe se qualquer coisa capaz de gerar uma dinâmica semelhante à do Bairro Alto não poderá nascer na Baixa, em Braço de Prata (Cabo Ruivo), onde a reutilização de espaços inexplorados é possível, na Almirante Reis, onde as rendas ainda são baratas, ou na zona industrial de Alcântara? O Bairro Alto, algo congestionado, até era capaz de agradecer.


http://ipsilon.publico.pt/cinema/texto.aspx?id=224422

O BAIRRO CULTURAL DE LISBOA


Vítor Belanciano

Partindo de uma reflexão sobre actividades culturais em relação com o desenvolvimento dos territórios, o investigador Pedro Costa analisou o Bairro Alto no livro "A Cultura em Lisboa".
Há-os em muitas cidades. O seu modelo é variável mas, por norma, são zonas que foram reconvertidas, com um ambiente criativo e informal, mistura de cafés, bares, galerias de arte ou salas de concertos, onde artistas emergentes podem experimentar. São os chamados bairros culturais, cada vez mais enaltecidos por permitirem um estilo de vida de escala humana e por serem sinónimo, quando equilibrados, de desenvolvimento económico sustentável. As suas fronteiras podem ser indefinidas, mas quando desembocamos num desses locais sentimos de imediato que não só entrámos numa comunidade cultural como podemos participar dela, de maneira interactiva.Hoje, esse tipo de territórios ganhou nova pertinência, também porque o sentido de cultura foi alterado, englobando indústrias culturais tradicionais, novas indústrias de conteúdos, formas consagradas de arte ou manifestações emergentes associadas às formas de sociabilidade urbana juvenis. Motivado por isto, há quatro anos, Pedro Costa - professor do Departamento de Economia do ISCTE e investigador do Dinâmia (Centro Estudos Sobre a Mudança Socioeconómica), que lidera o grupo de trabalho para as Estratégias para a Cultura em Lisboa - concluiu uma tese de doutoramento que parte de uma reflexão sobre as actividades culturais em relação com o desenvolvimento dos territórios e que incide sobre a Área Metropolitana de Lisboa, em particular o principal bairro cultural da cidade, a zona do Bairro Alto e Chiado.
Uma versão dessa tese foi lançada em livro: "A Cultura em Lisboa - competitividade e desenvolvimento territorial (edi. Imprensa de Ciências Sociais)." "Esta é a zona da cidade que mais facilmente se poderá assemelhar a um bairro cultural", diz-nos, "não só pela quantidade e diversidade de agentes que aqui se localizam, como pelo potencial simbólico que usufrui na cidade, bem como pelos efeitos externos gerados pela conjugação dessas características. Isso foi decisivo para me debruçar sobre este eixo, dedicando atenção ao papel da inovação e da criatividade nas dinâmicas geradas na zona, bem como na sua afirmação competitiva e na sua sustentabilidade, não deixando de lado os conflitos existentes." Sinergias e diferenças Entre o Bairro Alto e o Chiado existem sinergias, mas também diferenças. "São dois sistemas autónomos", reflecte, "o lado mais nocturno ligado à transgressão, a actividades emergentes, no Bairro Alto, e o lado mais institucional, diurno, no Chiado, onde existe a maior concentração de livrarias do país." A zona é um dos pólos principais da cidade no que respeita à animação nocturna, às artes performativas, à moda, aos antiquários, ao sector do livro, a segmentos da produção audiovisual ou a alguns dos mercados alternativos das indústrias culturais, por exemplo. Evidencia-se pela quantidade de actividades culturais aí implantadas, mas sobretudo pelo desenvolvimento de um meio criativo propício à circulação da informação, à difusão da inovação e à maneira tolerante como são recebidas as demonstrações culturais mais alternativas. "É um espaço onde é necessário estar, ir, ser visto, encetar contactos e divulgar lá coisas", afirma. "É um pólo nesse sentido, funcionando como base do sistema produtivo das actividades culturais. Por outro lado, possui um sistema de (auto)governação específico e um sistema de representações próprio - os agentes que lá estão reconhecem o local como um bairro cultural e, externamente, é visto dessa forma, o que beneficia quem lá está." Uma das conclusões que mais o surpreendeu foi ter percebido que os agentes do bairro não tinham especial apetência para reclamar políticas públicas em termos culturais. "Não queriam apoios nem intervenções estatais. Queriam, isso sim, ver resolvidas questões como o estacionamento, a aglomeração automóvel ou a requalificação do espaço público". Ou seja, o que é necessário são políticas transversais que possam garantir a estabilidade da área. Modelos O exemplo do Bairro Alto difere do de outros bairros culturais pela sua duração. Não é comum uma zona com estas características manter a centralidade durante tantos anos. "Nos EUA são normais fenómenos de gentrificação. Os artistas dão nome e visibilidade ao bairro, criam valor imobiliário, a zona é apropriada por outras pessoas e os artistas vão saindo." Em Inglaterra é diferente. "As operações são conduzidas pelos poderes públicos, promovendo agências de desenvolvimento local, que actuam, por norma, em zonas industriais, facilitando o aparecimento de actividades culturais", funcionando como veículo de requalificação urbanística de espaços degradados ou reconvertidos. "A Expo, nesse particular, foi uma oportunidade perdida. Houve reconversão urbana, mas em termos culturais não se pode dizer que tenha tido sucesso." Um outro modelo é aquele que permite que, através da iniciativa de vários agentes da mesma área de actividade, se tente criar uma área com motivações comuns. É isso que tem sido tentado em Lisboa com o projecto "Santos Design District", em Santos. No Bairro Alto ainda não existe um fenómeno de gentrificação, mas anos depois de ter desenvolvido o seu trabalho, Costa é da opinião que existe um perigo de massificação. "Não é compatível ter uma área criativa e vanguardista sendo massificada. Já se sente isso, com pessoas a saírem para zonas envolventes, da Bica ao Cais do Sodré. Por outro lado, socialmente, mais pessoas pode ser sinónimo de mais conflitos." Quando começou a desenvolver o seu trabalho, a importância e o valor estratégico das actividades culturais para o desenvolvimento territorial ainda não tinham o reconhecimento que hoje têm. Mas no último ano, modelos como o das "cidades criativas" ou noções como o de "indústrias criativas" ganharam visibilidade em Portugal porque parece existir, por fim, até da parte do poder político, a noção que são necessários novos modelos de desenvolvimento que cruzem cultura, urbanismo, economia e questões sociais. Mas Pedro Costa espera que a questão não se fique apenas pela retórica. Até porque se "por um lado existe esse tipo de discurso, depois reduz-se o orçamento do estado para a cultura." Ora, o que faz sentido quando se acredita numa área de actuação nova é aumentar o orçamento e não reduzi-lo.

in Público
27-02-2009