09 abril 2020

Carta Aberta a António Costa.



Exmo. Sr. Primeiro Ministro de Portugal Dr. António Costa,
Com audácia e determinação, Vossa Excelência conseguiu ser Primeiro-Ministro de Portugal, num momento em que muitos o achavam derrotado e sem futuro. Fê-lo negociando com imaginação e arrojo acordos e criando as condições para formar governo, tornando -se o primeiro a consegui-lo com tal fórmula político-parlamentar.


Contra todas as expectativas, liderou um governo durante quatro anos, com muitos a anunciarem o seu fim antecipado. Com sabedoria e prudência, mas também coragem e persistência, demonstrou rigor e sensibilidade nas decisões tomadas e nas medidas adoptadas.
Provou não ser preciso depreciar os portugueses para sair da crise e dotar o país de novas dinâmicas. Depois de um período de políticas duras, embora muitas delas inevitáveis naquela conjuntura, soube virar a página e olhar o futuro com ambição.

É claro que, para além do talento e da lucidez, também teve sorte! A verdade, porém, é que, para tudo na vida, a sorte faz falta e ajuda. Mas já diz o velho ditado que "a sorte dá muito trabalho" e somos nós que a ajudamos a ser a nossa sorte.

Orgulhamo-nos de ter um Primeiro-Ministro "irritantemente optimista", que foi capaz de formar um governo naquelas circunstâncias, negociando difíceis e exigentes acordos com parceiros exigentes e difíceis. Orgulhamo-nos de ter um Primeiro-Ministro que não deixou de honrar os seus compromissos políticos e partidários, sem deixar de cumprir os nossos compromissos nacionais e europeus.

Com agilidade e argúcia, soube conciliar o que parecia inconciliável, conseguindo uma verdadeira “quadratura do círculo”: atender as exigências dos parceiros de Acordo e não ceder na defesa dos interesses do país. Assim, conseguiu, com a colaboração valiosa do ministro Mário Centeno, impor rigor às finanças e crescimento à economia. Assim, conseguiu afirmar-se como um líder de referência e prestígio na cena nacional e internacional.

Senhor Primeiro-Ministro,

Quis, agora, o destino que fosse Vossa Excelência a liderar os destinos do nosso Portugal, no período mais difícil, turbulento, arriscado e de dias mais negros da nossa história recente.

Neste combate pela vida e pelo futuro, Vossa Excelência tem demonstrado as mesmas qualidades de audácia e determinação. E tem mostrado uma rara capacidade de planeamento e sensatez na procura das melhores soluções para fazer face à emergência, minorar os riscos e manter a coesão nacional.

Essas mesmas qualidades de que tem dado provas ao enfrentar, com a abnegada ministra Marta Temido e outros dirigentes sanitários, a crise de saúde pública, precisamos delas também para enfrentar a crise económica e social que já começou.

Precisamos de um esforço imenso, de decisões arrojadas e de medidas excepcionais para salvar o destino dos Portugueses, as suas empresas e os seus postos de trabalho. Precisamos de criar e juntar meios, recursos, disponibilidades e vontades. Precisamos de liderança e de estratégia. Precisamos de uma exigente e vigilante consciência nacional do que está em causa. Precisamos que ninguém se sinta alheio, dispensado ou afastado deste combate.

Neste tempo que em que o presente é tão perigoso como o futuro, apelamos, mais do que nunca, à clarividência e à tenacidade dos nossos governantes. E à sua capacidade de mobilizar os cidadãos num combate pela economia e pelo trabalho, que é também um combate pela cidadania, pela democracia, pelos Portugueses e por Portugal.

As medidas até agora tomadas, nestes domínios, são, na sua maioria, indispensáveis, necessárias e úteis, mas também precárias, frágeis e insuficientes. Precisamos de ir mais longe e mais fundo. Precisamos de evitar o «Salve-se quem puder!» e o «Vale tudo!» Precisamos de impedir que os egoísmos, os oportunismos e os corporativismos, que estão sempre à espreita das ocasiões propícias, se tornem dominantes e parasitários. Precisamos de reforçar o sentimento de que «estamos todos no mesmo barco» e de que, só nos salvaremos, se nos salvarmos todos. Precisamos de fazer prevalecer o interesse geral e o bem-comum sobre os interesses particulares.

E precisamos, mais do que nunca, de continuar a ter a audácia indispensável para enfrentar os poderosos interesses europeus, com a arrogância e a crueldade “repugnante” com que se manifestam. Neste momento, é também o destino da Europa que está em causa!

Cabe lhe a si, senhor Primeiro-Ministro, salvaguardar e proteger o futuro dos portugueses e a solidariedade europeia.

Faça o mesmo que, politicamente, tem sabido fazer como Chefe do Governo: procure aliados activos e solidários, sendo que os primeiros deles são os povos ameaçados e temerosos.

Não podemos aceitar que uma crise destas seja resolvida com recurso à receita tradicional de mais austeridade para os mesmos: aumento de impostos e cortes nos rendimentos. Precisamos de ter a visão larga, vigorosa, solidária e humanista que tiveram os que dirigiram o mundo depois da II Guerra Mundial.

Confiamos em António Costa, em Mário Centeno, em Marta Temido e nos outros governantes. Confiamos neles com uma confiança feita de exigência, de expectativa e de avaliação.

Confiamos neles, porque queremos confiar no nosso futuro comum.

Bem Hajam e Bom Trabalho!!!

Com os Votos de Uma Santa Pascoa!

Força Bairro Alto!

Força Portugueses para o bem de Portugal!

Hilário Castro
Presidente da Direção da Associação de Comerciantes do Bairro Alto.